O tempo passa… sabemos que mudanças virão, seja na vida pessoal ou na profissional, e o que há de se fazer? O filme “O Que Está Por Vir” faz uma brilhante reflexão sobre a incapacidade de controlar a passagem do tempo e suas consequências. No original, em francês, o título do filme da cineasta Mia Hansen-Love é justamente L’Avenir, ou seja, “o futuro”.
A história começa com a visita ao túmulo do escritor François-René de Chateaubriand (1768-1848), em Saint-Malo, na Bretanha. Isabelle Huppert, que mais uma vez dá um show de interpretação, é a professora parisiense de filosofia Nathalie. Com o marido e os filhos pequenos, presta homenagem ao autor no túmulo solitário encravado na montanha.
Anos depois, já cinquentona, ainda mais intelectual, com os dois filhos adultos, Nathalie equilibra-se entre a rotina com o marido (André Marcon), também professor, e os cuidados com sua mãe (Édith Scob), que sofre frequentes ataques de pânico. O que a move é sua paixão por ensinar e fazer com que seus alunos pensem e busquem seu lugar no mundo.
Mas a vida tem seus clichês e alguns deles, implacáveis, vão bater à porta: seu marido conhece uma mulher mais jovem e pede a separação. Apesar do choque inicial, a sensação de liberdade é maior e sua vontade de se renovar encontra forças e apoio na convivência com um de seus alunos mais queridos, Fabien (Roman Kolinka), um rapaz de ideias anarquistas que larga a boa vida de Paris pelo campo.
Em outro momento, a editora que publica sua coleção de livros de filosofia a procura querendo “modernizar” as edições. “Isso aqui está parecendo uma caixa de bombons”, reclama a professora ao se deparar com as capas coloridíssimas. Seus livros não vendem tanto quanto a editora gostaria porque são muito “austeros”. Não há solução a não ser desistir.
O gosto pela liberdade fica ainda mais acentuado quando sua mãe, que meses antes havia se decidido a mudar para um asilo, morre. Sobram os livros, o gato velho e obeso herdado de sua mãe e algumas certezas intelectuais que, talvez, agora já não façam mais sentido.
Empurrada para o futuro, a protagonista segue, mesmo sem saber se está pronta. Assim como cada um de nós. Repleto de citações filosóficas, o filme retrata a chegada da chamada “meia idade” nos detalhes, no que não é dito, mas nos gestos. E as novas caminhadas de Nathalie vão sendo pouco a pouco reveladas.
A cineasta Mia Hansen-Love, que venceu o prêmio de melhor diretora pelo trabalho no Festival de Berlim de 2016, tem como uma de suas marcas mostrar seus personagens andando. “Retratar pessoas, capturar suas presenças, tem a ver com pensar e falar, mas também tem a ver com a aparência, não só do rosto, mas como andam. Não consigo imaginar um retrato em que não possa ver a personagem andando na rua, descendo as escadas”, diz. E Nathalie anda: por pisos de madeira, pelas calçadas de Paris, pelas areias das praias da Bretanha, pelos verdes campos do interior francês.
Mia Hansen-Love foca Nathalie com compaixão e lucidez, sem melodrama, assim como fez em filmes anteriores, como “Adeus Primeiro Amor” (2011) e “O Pai dos Meus Filhos” (2009). Aos 35 anos, a cineasta, casada com o também diretor Olivier Assayas, talvez também esteja passando por mudanças, ou sabe que elas virão. “O Que Está Por Vir” reafirma seu nome entre as grandes diretoras da nova geração. É um filme necessário, com desfecho melancólico, mas que celebra, afinal, a chegada do futuro.
Bom Ano-Novo.
TRAILER
Filme magnífico, tive o prazer de assisti-lo.
Adorei…abraços Dani
Obrigada João! É um ótimo filme!