Caminhar pelas ruas da cidade ou pelas trilhas de nossas áreas rurais nos faz sentir pertencentes a paisagens lúdicas, bucólicas, cheias de vida, muitas vezes alegres, outras tristes, e que parecem estar ali só para nos desafiar a prosseguir para descobrir emoções novas, a beleza, o prazer de viver.
O início é sempre lento, no passo a passo, mas depois vamos nos perdendo num mundo de sons, cheiros, emoções, até sentirmos alguns limites que nos fazem parar e refletir sobre o que impede de prosseguirmos.
São essas emoções que a cidade passa e são com elas que convivemos em nosso dia a dia.
E aqui faço minhas primeiras indagações: Será que paramos por vontade própria ou existe alguma barreira que nos impede de prosseguir?
O que a cidade nos revela?
O que nos faz desviar quando vemos uma praça tomada por moradores de rua dormindo ao relento, talvez embriagados ou drogados, desocupados? Medo, repulsa, indiferença, compaixão, amor?
![Rita_140111_039](http://asn.blog.br/wp-content/uploads/2017/04/Rita_140111_039-1200x797.jpg)
Qual sentimento de pertencimento de lugar passa dentro de nós quando vemos nossos iguais sem um lugar digno para viver, sem o mínimo de esperança no olhar e entregues à própria sorte, como se apenas esperassem a morte chegar.
Pois pouco ou nada resta a um embriagado/drogado, a não ser esse fim trágico bem na frente de nossos olhos.
Que cidade é essa que, apesar de rica, continua gestando cidadãos páreas da sociedade?
Onde está a fronteira demarcada que cria essa separação?
Essa provavelmente não é uma cidade saudável para seus cidadãos.
As barreiras estão aí na nossa frente, só não as vemos, mas existem, e crescem.
Quando falamos de sustentabilidade, de planejamento, de cidadania, falamos do visível, mas temos que enxergar além e trazer o “invisível” também para dentro da nossa realidade.
Não dá para flanarmos e devanearmos como no século XIX, imaginando que a pobreza e as mazelas da sociedade irão desaparecer apenas com limitações ou expansões de perímetro urbano, ou criação de novas áreas de adensamento de baixa renda ou alta renda.
Devemos tomar consciência e perceber que, quando surge diante de nós um ser humano destituído de seus direitos e valores como cidadão, isso apenas mostra que a cidade adoeceu um pouco mais.
Ignorar essa realidade é tornar o visível invisível, como se isso fosse possível.
A cidade, assim, morre a cada dia.
Planejar a cidade é fazer que ela seja capaz de se reinventar com a participação de todos, desfazendo suas barreiras invisíveis, aquelas que se dão pelo aumento de todo tipo de segregação.
![Foto Martinho Caires](http://asn.blog.br/wp-content/uploads/2017/04/Rita_140107_016-1200x797.jpg)
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