Foto Martinho Caires
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Plano Diretor: O invisível mais que visível.

rita-amoroso_161206_006_400x400Caminhar pelas ruas da cidade ou pelas trilhas de nossas áreas rurais nos faz sentir pertencentes a paisagens lúdicas, bucólicas, cheias de vida, muitas vezes alegres, outras tristes, e que parecem estar ali só para nos desafiar a prosseguir para descobrir emoções novas, a beleza, o prazer de viver.

O início é sempre lento, no passo a passo, mas depois vamos nos perdendo num mundo de sons, cheiros, emoções, até sentirmos alguns limites que nos fazem parar e refletir sobre o  que impede de prosseguirmos.

São essas emoções que a cidade passa e são com elas que convivemos em nosso dia a dia.

E aqui faço minhas primeiras indagações: Será que paramos por vontade própria ou existe alguma barreira que nos impede de prosseguir?

O que a cidade nos revela?

O que nos faz desviar quando vemos uma praça tomada por moradores de rua dormindo ao relento, talvez embriagados ou drogados, desocupados? Medo, repulsa, indiferença, compaixão, amor?

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Foto Martinho Caires

Qual sentimento de pertencimento de lugar passa dentro de nós quando vemos nossos iguais sem um lugar digno para viver, sem o mínimo de esperança no olhar e entregues à própria sorte, como se apenas esperassem a morte chegar.

Pois pouco ou nada resta a um embriagado/drogado, a não ser esse fim trágico bem na frente de nossos olhos.

Que cidade é essa que, apesar de rica, continua gestando cidadãos páreas da sociedade?

Onde está a fronteira demarcada que cria essa separação?

Essa provavelmente não é uma cidade saudável para seus cidadãos.

As barreiras estão aí na nossa frente, só não as vemos, mas existem, e crescem.

Quando falamos de sustentabilidade, de planejamento, de cidadania, falamos do visível, mas temos que enxergar além e trazer o “invisível” também para dentro da nossa realidade.

Não dá para flanarmos e devanearmos como no século XIX, imaginando que a pobreza e as mazelas da sociedade irão desaparecer apenas com limitações ou expansões de perímetro urbano, ou criação de novas áreas de adensamento de baixa renda ou alta renda.

Devemos tomar consciência e perceber que, quando surge diante de nós um ser humano destituído de seus direitos e valores como cidadão, isso apenas mostra que a cidade adoeceu um pouco mais.

Ignorar essa realidade é tornar o visível invisível, como se isso fosse possível.

A cidade, assim, morre a cada dia.

Planejar a cidade é fazer que ela seja capaz de se reinventar com a participação de todos, desfazendo suas barreiras invisíveis, aquelas que se dão pelo aumento de todo tipo de  segregação.

Foto Martinho Caires
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Sobre Maria Rita Amoroso

Arquiteta Urbanista amante da arte, da cultura e da vida. Campineira de nascimento, mas com DNA mineiro que faz o sangue ferver ao ver montanhas, rios, casarios, ruas e gente. Fervura de amor, e se preciso de luta por essa gente que sente, que fala, que ri, que chora, que vive e se percebe e se emociona como as cidades que possuem vida porque tem pessoas. http://mariaritaamoroso.com.br

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