do antes e durante – escuta que se escreve
esperava intrigada pela pergunta. o que é? os olhos coreografavam movimentos lentos quando pesava as palavras. qual cardápio invisível, sem pauta, in-aberto, ela abrira? hipnotizada por si mesma, parou com os olhos na parede, piscou e com uma certeza, que só a alegria conhece, pronunciou o que encontrara. o prazer de nomear e depois…
há momentos de puro-estar-ali
ela – 9 anos
– por que foi importante para você aprender a escrever?
– para escrever minhas coisas favoritas, mensagens, textos, livros e as letras que formam as sílabas que formam as palavras. começa de um risco e vai formando um desenho e é isso.
– você acha importante saber pontuação?
– sim, sem a pontuação não iria ter começo, não iria ter pausa e não haveria fim.
– o que mais você gostaria de falar sobre a escrita?
– nada.
único tem um particular igual
liberdade – do verbo libertar, é se soltar da imaginação e da realidade
diretamente – algo direto, que vem surprientemente
precário é precaucio, que é um problema
culminância é o alto da montanha cheia de neve
– bonita essa música. você que inventou?
– não, veio na minha cabeça.
ela – 5 anos
a casa tem uma entrada com monte de escadas. não é casa pra vivo, é pra morto. não, espera… são cadeiras e tem um transporte que me leva para onde eu quiser. eu quero ir para horlanda, é perto do brasil, é só dá um passo e já chega.
suborno é um forno levando para polo norte para esquentar as pessoas
ruim é quando alguma coisa de ruim que acontece. que ruim quebrar um braço caindo de um paraquedas
– mãe, eu sonhei com uma escola só de meninas-lagartas
rompante parece rouco
manipulação – quando você manipula alguém. quando uma mãe pula num pula-pula, talvez?
– mãe, tipo se eu fosse uma baratinha com chiclete eu fazia uma bola e voaria para o resto do mundo.
vapor é quando eu escrevo meu nome no vidro
primavera é uma estação maravilhosa
proibido, depois eu falo
continente é de fada que entra dentro da tv e faz filme fabuloso
vegetação é uma cor, é cru
– mãe, sabia que hoje é o seu futuro?
o menino – 8 anos
verdade é uma pergunta. você tem que falar tudo o que você sente de você. tudo o que você pensa na sua cabeça.
reconhecimento é que você nunca vê uma pessoa que você viu, então você pergunta o nome.
coluna cervical – eu não sei, eu nunca perguntei essa palavra na vida e eu nunca sabia.
sujeito – não é só o nome, é uma pessoa que tenta pensar o que você sente, vê o corpo que tá lá primeiro. tem gente que não consegue andar direito ainda, porque é pequeno
tímido – gente que não fala, não consegue saber o que vai falar. só coisas de falar. você fica com medo, tentando não ficar com medo para ver se a palavra quer falar. para sair de timidez tem que brincar com um espelho. você fala com ele e vê sua verdadeira voz.
borracha – é um material de qualquer coisa de trabalho de escola, serve para tudo apagar que você fez de errado, menos caneta. se você apagar fraco, continua com a letra.
criança – uma pessoa que ainda não sabe de tantas coisas. o que tem em outro país. não sabe onde é o lugar que mora. tem criança que não sabe estudar.
segredo – você fala com alguém só que cochichando. você conta para uma pessoa só.
amiga – 9 anos
antropológico é o médico que cuida do pâncreas
assobradada a sobra que é dada e a soga da dada
deslocamento – desloca um osso, quando quebra, sair do lugar, voltar para mãe
o menino que estava lá
desespero – tem duas coisas: desesperamente para ir no banheiro; desesperamente de brincar
testemunho – algo da bíblia, história da bíblia
poema de amor com palavras costuradas por duas mães, uma tia muito avó, outra só tia, filha, filho e uma filha que engatinhava
o amor é plena noite
eles e uma relação íntima
bastava um gesto
nada
sem conservar e desespero
mundo tem ponto
o amor é através do deslocamento
como segredo
herdeiro humano