(Foto Ylvers_CreativeCommons)
(Foto Ylvers_CreativeCommons)

Pássaros do fogo

Andre_PB_400x400“Bombeiros e voluntários levaram horas para controlar aquele incêndio, o trabalho estava cada vez mais difícil, pois, estranhamente, novos focos começavam e, ao se controlar um, outro mais aparecia. Era estranho, pois o incêndio não crescia como se levado pelo vento numa única onda de fogo e destruição, mas eram pontos isolados um dos outros. Os focos brotavam num local e depois em outro. Ninguém sabia ao certo como isso acontecia, era uma região bastante afastada e ninguém vivia por ali. Muitos pensavam serem causados por pequenos agricultores, incendiando para obter terras aráveis, mas não encontraram nenhuma prova disso. Os bombeiros estavam convencidos de que os incêndios eram intencionais, foram causados por alguém e por algum motivo, mas quem?

Os únicos habitantes daquela região eram pequenos animais roedores e falcões, mas que maluco, em sã consciência, poderia supor que eles estavam sendo causados por aves de rapina? Era uma ideia maluca sem dúvida.

Inacreditavelmente, porém, eram causados por eles… os gaviões.”

Novas descobertas sobre a sua incrível inteligência (Foto: Helena Borducchi)
Novas descobertas sobre a sua incrível inteligência (Foto: Helena Borducchi)

 

A espécie humana é conhecidamente como a única capaz de controlar o fogo, e essa característica é única dentro de todos os seres vivos do planeta. Graças a isso, o homem deu um salto enorme na sua evolução, pois alimentos que antes eram impalatáveis após serem cozidos passaram a ser digeridos. O organismo também absorve melhor os nutrientes dos alimentos cozidos. Assim, com mais nutriente, o cérebro cresceu e aumentou a capacidade de raciocínio e o sucesso do Homo sapiens.

Agora se sabe que algumas aves de rapina também são capazes de controlar o fogo e, inclusive, iniciar intencionalmente focos de incêndio para auxiliar suas caçadas.

Na Austrália, existem muitas histórias sobre gaviões carregando pedaços de madeira incendiadas e iniciando incêndios; muitas delas vêm dos aborígenes. Eles observaram que, toda vez que um incêndio era controlado, um outro foco aparecia em seguida e muitos viam sobrevoando ao redor gaviões carregando galhos ardendo em chamas. Os aborígenes dizem que os gaviões iniciam incêndios na intenção de desentocar animais escondidos no meio da pastagem.

Seria mais ou menos como uma espécie de drone, eles levam a madeira queimando a um local e ali soltam o galho que, ao cair no solo, inicia o incêndio.

Foi publicado recentemente um artigo científico na revista Journal of Ethnobiology, descrevendo esse curioso comportamento de algumas aves de rapina. As espécies em questão são três: o milhafre-preto (Milvus migrans), o whistling kites (Haliastur sphenurus) e o falcão marrom (Falco berigora).

Cientistas ainda não sabem em que período da evolução os gaviões aprenderam a utilizar o fogo para ajudar em suas caçadas. A espécie humana aprendeu isso há mais de 400 mil anos e nenhuma outra espécie, até então, era capaz disso, mas gaviões já existiam bem antes, há milhões de anos, e provavelmente já tinham descoberto essa poderosa ferramenta muito antes dos homens.

O homem sempre foi considerado o único animal capaz de dominar o fogo (foto: werner22brigitte/CreativeCommons)
O homem sempre foi considerado o único animal capaz de dominar o fogo (foto: werner22brigitte/CreativeCommons)

 

Controlar o fogo talvez seja a última dentre tantas descobertas sobre a inteligência dessas incríveis criaturas de penas.

Muitos pássaros espalham farelo de pão em lagos para facilitar sua pescaria, um dos gaviões incendiários também é capaz disso. O abutre-do-egipto utiliza gravetos para “colher” lãs de ovelha para construir seus ninhos, corvos dão presentes aos humanos em troca de alimentos. Alguns pássaros também dão presentes a seus parceiros e são capazes, inclusive, de recordar quais deles são seus preferidos.

A Cacatua-das-palmeiras usa gravetos como baqueta e cria sons batucando nas árvores para impressionar suas parceiras.

Tínhamos uma galinha bem especial lá no sítio, e claro que ninguém acredita na história que conto sobre ela.

Meu pai começava o dia bem cedo e ia, geralmente, de cavalo até o curral para tirar leite, quase sempre cachorros acompanhavam o cavalo, mas lá no sítio a bendita galinha também o seguia todas as manhãs atrás do cavalo…

Quem quiser saber mais sobre essa descoberta “Intentional Fire-Spreading by “Firehawk” Raptors in Northern Australia” basta acessar o site da revista Journal of Ethnobiology www.doi.org/ch37

Sobre André Sarria

Os certificados e papéis dizem que eu sou cientista, mas prefiro ser mais um "escutador" da natureza do que cientista. A natureza fala e eu a traduzo em linguagem de gente. Nasci em Cajobi e trabalhei em Londres como Pesquisador no Rothamsted Research. Atualmente moro em Madrid onde sou Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa Europeia de agricultura.

Check Also

Pequeno mentiroso (Foto Acervo pessoal)

Cachorro, mentiroso

Em agosto, estava em Goiânia para concluir alguns trabalhos em cães. Iríamos atuar com os …