Crédito: Pexels
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A volta do meu poeta cego e insano

carlaozinho_0256_400x400Já contei aqui que, na cidade alternativa que habitei um dia, tinha sempre um poeta cego e insano plantado nas trêmulas esquinas pelas quais eu passava, com meu cortejo de fantasmas sedentos de sei lá o que.

Ele adivinhava os meus passos e se teleportava para os pontos de encontro. Sempre com um poema na ponta da alma. Houve uma vez que o poema se chamou Anotações de emergência ao pé do semáforo. Era assim:

 

Imóvel à porta do meu paraíso interditado.

Telepatias cessam cancelo o mundo.

Madrugada avenida.

 

Anotações de emergência ao pé do semáforo.

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Luz vermelha tecendo o homem impossível vertical no asfalto.

 

Os minúsculos pássaros cinzas que perturbam a substância

dos neons têm asas lentas demais para não acabar no fio de água

que corta a avenida e vai dar no sono mineral dos mastins.

 

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Meu coração sem sangue nem megafone já busca

o seu compartimento na trama dos naufrágios.

 

Sobre Carlãozinho Lemes

Antes do jornalismo, meu sonho era ser... astronauta. Meu saudoso pai me broxou: “Pra isso, precisa seguir carreira militar”. Porém, nunca deixei de ir transmutando a sucata anárquica dos pesadelos em narrativas cambaleantes entre ficção científica, uma fantasia algo melancólica, humor insólito e a memória — essa tumba mal lacrada de maravilhas malditas. Assim, é o astronauta precocemente abortado quem proclama: rumo ao estranho e às entranhas!

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