“The Square – A Arte da Discórdia”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, incomoda. Candidato a melhor filme estrangeiro do Oscar 2018, o filme sueco expõe muitos dos grandes dilemas do mundo contemporâneo em uma sequência primorosa que revela o comportamento “cada um no seu quadrado” dos nossos tempos. O mendigo te pede uma moeda? Olhe para o outro lado. O drogado da esquina te amedronta? Mude seu caminho. Balas perdidas tiram a vida de crianças? Vamos pular Carnaval…
O cineasta sueco Rubens Östlund, o mesmo do instigante “Força Maior”, coloca o mundo da arte contemporânea como cenário deste filme dramático, que mexe com os nervos e faz a gente rir de puro nervoso. O protagonista é Christian (Claes Bang), curador de um grande museu de arte contemporânea em Estocolmo, pai divorciado com duas filhas, acostumado com o poder, que circula entre as grandes fortunas. Um incidente muda sua história quando, ao ser vítima de um golpe de rua, sua carteira e o celular são furtados.
Com o rastreador do celular ativo, Christian sabe onde o aparelho está, em um prédio na periferia, e a partir de um plano mirabolante, vai tentar resgatar suas coisas. Ao mesmo tempo, o museu está para inaugurar uma exposição chamada The Square, que, simplificando, trata da confiança e da desconfiança entre as pessoas. A dupla de criação que trabalha no marketing quer ir além dos “abutres de museu” e chamar mais atenção para a mostra. Christian, mais preocupado com o furto, nem chega a aprovar o vídeo proposto para “fazer barulho” e trazer público. Mesmo assim, o vídeo é postado no YouTube, viraliza e o escândalo acontece. As consequências são inimagináveis.
Enquanto isso, não por acaso, mendigos e mais mendigos perambulam pelas elegantes ruas de Estocolmo e cruzam o caminho do protagonista em diversas cenas. Pedem uma moeda, pedem comida, pedem ajuda, pedem socorro. No vai e vem cotidiano em um cenário insensível e com sua própria lógica excludente, os pedintes são ignorados. E eles não serão os únicos a clamar por socorro.
Neste filme, onde nada é gratuito, duas entre muitas sequências merecem ser destacadas. Na mais enervante delas, um jantar de gala vai contar com uma performance de um artista (Terry Notary, impressionante) que faz as vezes de um animal selvagem, um gorila. Não mostre medo, não reaja e o animal não vai te pegar. E, se ele atacar o seu vizinho, faça de conta que não está vendo. A tensão é imensa, faz o coração acelerar. Na outra sequência, uma jornalista (vivida pela atriz norte-americana Elisabeth Moss), que tem um macaco de estimação, protagoniza uma cena de sexo totalmente anti-clímax, que termina com uma disputa sobre quem vai jogar a camisinha no lixo. Tudo isso embalado em um humor corrosivo.
Daniela Prandi, thanks a lot for the post.Really thank you! Much obliged.