"Até o Último Homem" é baseado em história real do soldado-médico que se recusou a pegar em armas na Segunda Guerra Mundial
"Até o Último Homem" é baseado em história real do soldado-médico que se recusou a pegar em armas na Segunda Guerra Mundial

“Até o Último Homem” e “A Qualquer Custo”: filmes para duros na queda

DaniPrandi_0188c_500A indústria do cinema comprova que são as mulheres que decidem qual filme o casal vai assistir, mas é preciso fazer concessões, para o bem da vida a dois, e encarar uns “filmes de durões” de vez em quando. Dois gêneros, o faroeste e o filme de guerra, que transbordam masculinidade, estão muito bem representados nesta temporada e com indicações ao Oscar 2017, cuja cerimônia será neste domingo (26 de fevereiro).
“Até o Último Homem”, que marca o retorno de Mel Gibson à direção, e “A Qualquer Custo”, western sobre dois irmãos ladrões de bancos, são sobre homens, com a maioria do elenco composta por homens que pegam em armas, outra “coisa de homem” (é claro que há exceções, não quero generalizar nem muito menos polemizar), e espalham violência.

“Até o Último Homem”, com seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e diretor, leva para as telas a história real de Desmond Doss (vivido por Andrew Garfield, que já foi o Homem-Aranha, indicado ao Oscar pela brilhante interpretação), um rapaz religioso que se alista para a Segunda Guerra Mundial para atuar como médico e se recusa a pegar em armas.

O filme é dirigido por Mel Gibson, que tem conhecida predileção por cenas de violência
Com seis indicações ao Oscar, o filme dirigido por Mel Gibson tem sangue de sobra

Doss é maltratado pelos colegas e pelos superiores, chega a ser preso por desobediência, mas a lei está a seu favor e lá vai ele para o front de mãos abanando. O filme tem três partes: sua infância e adolescência sofrida por causa de um pai violento, que lutou na Primeira Guerra, seu período de treinamento e, por fim, as cenas de batalha, em Okinawa, no Japão.

Gibson, premiado por “Coração Valente” em 1995 e que retorna ao cinema após um período marcado por escândalos e decadência por causa de declarações antissemitas e homofóbicas pós-“A Paixão de Cristo”, de 2004, vive sua ressurreição profissional. Quem o acompanha sabe de sua predileção pelas cenas de violência e, na terceira parte de “Até o Último Homem”, há sangue de sobra. As cenas de batalhas são intensas, fortes e muito bem conduzidas, com um realismo que impressiona e, sem dúvida, o ponto alto do filme. Aviso: para estômagos fortes.

"Até o Último Homem" tem sangue de sobra, com cenas de batalhas muito bem conduzidas
Andrew Garfield, que já foi o Homem-Aranha, tem uma indicação ao Oscar pela atuação como Doss

O feito de seu herói, antes considerado um covarde, mas que salvou sozinho 75 soldados e recebeu a Medalha de Honra sem nunca ter tocado em uma arma, fica ainda mais real e comovente nas cenas finais, quando são exibido trechos de um depoimento do verdadeiro Desmond Doss, que morreu em 2006.

Já em “A Qualquer Custo”, com quatro indicações ao Oscar, inclusive melhor filme, do diretor escocês David Mackenzie, o mundo dos homens é o atual Texas falido, decadente e fortemente armado, no qual famílias perdem seus ranchos para os bancos e as cidades se transformam em cenários desolados.

Os irmãos Tanner (Ben Foster) e Toby Howard (Chris Pine) levam adiante um plano para assaltar a rede de bancos Texas Midlands, e, assim, pagar a dívida que a família tem com o próprio banco. O roteiro, de Taylor Sheridan (“Sicário”), é bem estruturado e irônico: “O que é roubar um banco em comparação com fundar um banco?”

Com quatro indicações ao Oscar, "A Qualquer Custo" é um filme do diretor escocês David Mackenzie
Com quatro indicações ao Oscar, “A Qualquer Custo” é um filme do diretor escocês David Mackenzie
 Tanner, ex-presidiário, é bem mais violento que seu irmão, um rapaz pacato, que sofre com a separação recente e quer dar uma vida melhor aos filhos. Seu objetivo maior é manter as terras da família, pois há petróleo lá e isso pode significar uma vida diferente. Inexperientes, os irmãos acabam criando um padrão de comportamento que atrai a atenção da polícia, especialmente do Texas Ranger Marcus (Jeff Bridges, indicado ao Oscar de coadjuvante e, apesar de não ser o favorito, bem que merecia), um veterano com a aposentadoria batendo à porta em busca de alguma emoção extra.
Os diálogos são pontos fortes do filme que concorre na categoria Melhor Filme
Os diálogos são pontos fortes do filme que concorre na categoria Melhor Filme

  Ao lado do parceiro Alberto (Gil Birmingham), meio índio, meio mexicano, o Ranger cai na estrada para caçar os ladrões. As cenas e os diálogos, basicamente uma troca de insultos constantes, invariavelmente racistas, entre os personagens de Bridges e Birmingham, estão entre os melhores momentos do filme. É tão cruel que chega a ser ironicamente divertido.

Não faltam as cenas de perseguições e outras sequências que impressionam pela violência, principalmente as cenas de tiroteio. De onde saiu tanta gente armada? Ah, é só o Texas.

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Sobre Daniela Prandi

Daniela Prandi, paulista, jornalista, fanática por cinema, vai do pop ao cult mas não passa nem perto de filmes de terror. Louca por livros, gibis, arte, poesia e tudo o mais que mexa com as palavras em movimento, vive cada sessão de cinema como se fosse a última.

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