Hoje qualquer um tira uma foto com seu telefone, as revistas em papel estão desaparecendo e o cinema luta para sobreviver nas novas plataformas digitais. Mesmo assim, mitos permanecem. Mesmo que forjados por fotografias que atravessam as décadas intocáveis no seu preto e branco poético, impressas em publicações que um dia ajudaram a entender o mundo. Um deles é James Dean, o eterno “rebelde sem causa”, que tem parte de sua breve trajetória contada em “Life – Um Retrato de James Dean”. A prestigiada revista “Life” publicou, dias antes da estreia de “Vidas Amargas”, adaptação de Elia Kazan para o romance de John Steinbeck, em 1955, um ensaio fotográfico daquele que viria a ser um dos grandes símbolos de uma época. O filme conta a história dessas fotos e da batalha do então novato fotógrafo Dennis Stock para conseguir tirá-las. …
Leia Mais »Daniela Prandi
Chocolat, o primeiro palhaço negro da França; mas não só
O filme “Chocolate”, com o ator Omar Sy, conta a história do primeiro palhaço negro da história da França. Mas não só. O roteiro expõe o racismo que acompanha a indústria do entretenimento desde sempre. (Não por acaso, vale lembrar que, nesta temporada, o Oscar ignorou os negros em suas indicações aos melhores do ano, o que provocou barulho e protestos.) Chocolat, o palhaço, é saco de pancadas no centro do picadeiro e sua cor serve de mote para as gags. Mas o artista vai além. O filme, que foi um dos grandes destaques do Festival Varilux de Cinema Francês e agora entra em cartaz no circuito comercial, faz um bom apanhado da história real de Rafael Padilha, um ex-escravo que nasceu em Cuba no ano de 1868. Ainda criança foi vendido, mas fugiu por causa dos maus-tratos e, sem …
Leia Mais »“Nós ou Nada em Paris”, a arte de rir pra não chorar
Fazer “rir pra não chorar” é um talento. Em “Nós ou Nada em Paris” (Nous Trois ou Rien), as tragédias recentes no Irã ganham um ar de comédia, ou de tragicomédia, na direção do estreante rapper e comediante franco-iraniano Kheiron, revelado ao público francês no programa “Jamel Comedy Club”. A fórmula já foi usada outras vezes, como em “A Vida é Bela”, que extraiu risos em uma história passada em um campo de concentração, por exemplo. Mas Kheiron consegue algo mais ao retratar a história verdadeira de sua família, ambientada em um recente período turbulento de mudanças políticas extremas no Irã. Kheiron interpreta o próprio pai ao mostrar a trajetória de seus pais, Hibat e Fereshteh Tabib (Leila Bekhti, de “O Profeta”), que foram obrigados a pedir asilo político na França após militância nos grupos de oposição tanto ao regime …
Leia Mais »Precisamos falar sobre o estupro
Estupro é arma de guerra e sempre será. A atriz francesa Lou de Laâge, protagonista do filme ‘Agnus Dei’ (Les Innocentes), um dos destaques do Festival Varilux, veio ao Rio de Janeiro para participar do evento e, em todas as entrevistas e debates de que participou, foi questionada sobre a “infeliz coincidência” de um caso ocorrido há 70 anos encontrar paralelo no Rio de Janeiro de hoje. “Os estupros sempre existiram e, provavelmente, vão continuar existindo”, disse a atual queridinha do cinema francês logo após a sessão no Cine Odeon, na Cinelândia, acompanhada pela Agência Social de Notícias. “Por isso, é importante falar sobre isso, para fazer com que a humanidade se torne melhor.” Em ‘Agnus Dei’, com direção de Anne Fontaine, Lou de Laâge dá vida a uma personagem inspirada na vida real. A jovem médica Madeleine Pauliac, que …
Leia Mais »O inverno está chegando em “A Frente Fria que a Chuva Traz”
Nas escadarias da biblioteca de Londrina (PR), no final dos anos 1980, conheci e virei fã de Mario Bortolotto. Naquela época, suas peças de teatro exalavam uma rebeldia juvenil carregada, com um quê de Charles Bukowski. Bortolotto logo migrou para palcos mais celebrados e hoje é um dramaturgo dos mais respeitados na cena nacional. Londrina virou passado e em um final de tarde frio e cinzento, no Rio de Janeiro, o reencontrei, na telona, em “A Frente Fria que a Chuva Traz”. Éramos pouquíssimos espectadores naquela imensa sala de cinema do Centro carioca. Bortolotto é o autor da peça que deu origem ao filme e que marca a volta à direção do veterano Neville D’Almeida, de “A Dama do Lotação” (1978), que estava há uns 15 anos sem filmar. Além disso, também atua, em um papel sob medida para seu …
Leia Mais »Está louca? Tartarugas Ninja na capa do caderno de Cultura?
Elas nasceram nos quadrinhos underground, eram sombrias e violentas, em preto e branco, no melhor do pior estilo tosco, quase uma piada de mau gosto, na metade dos anos 1980. Poucos conheciam as tais “Tartarugas Mutantes Adolescentes Ninja” até que o filme foi lançado, em 1990. Fanática por gibis, e graças aos amigos mais underground, me divertia com Donatello, Michelangelo, Leonardo e Raphael. Demorei algum tempo até convencer o editor do jornal onde começava minha carreira de que a estreia de cinema merecia a capa. “Está louca? Tartarugas Ninja na capa do caderno de Cultura”? Na época, o filme tinha entrado para a história como a produção independente que mais tinha faturado até então. Tinha custado US$ 13 milhões e arrecadado mais de US$ 200 milhões. Era um fenômeno cultural, argumentei. O primeiro filme se resumia a contar a origem …
Leia Mais »Crítico de cinema? Mas isso é uma profissão?
O francês Jean-Michel Frodon conta que, um dia, um taxista lhe perguntou sua profissão. “Sou crítico de cinema”, respondeu. “Mas isso é uma profissão?”, questionou o taxista. Frodon, um dos mais respeitados críticos de cinema da França, abriu nesta sexta-feira (10 de junho), no Rio de Janeiro, a programação do Festival Varilux de Cinema Francês, que terá programação em 50 cidades, com uma master class sobre o seu ofício. Tive o prazer de estar na plateia, junto com alguns dos mais conhecidos críticos do Brasil e entusiastas da sétima arte, e acompanhamos atentamente sua “aula de mestre”. Foi lição em cima de lição. O francês, que foi diretor de redação da revista Cahiers du Cinéma de 2003 a 2009 e é autor de diversos livros sobre cinema, foi inspirador. Lembrou que, a cada semana, quando novos filmes são lançados, são as pessoas que escrevem sobre eles as responsáveis …
Leia Mais »A felicidade mora longe
No Rio de Janeiro toda a gente espera. No caos de uma cidade que se tornou um canteiro de obras, primeiro com a Copa do Mudo, depois com os Jogos Olímpicos, a expectativa de dias melhores move o ir e vir, sempre muito tumultuado, de quem (sobre)vive na cidade dita maravilhosa. A pequena Rayane e seu irmão Ygor esperam a mãe que os deixou em frente a um prédio na endinheirada Zona Sul dizendo que voltaria logo. Nas mãos, a garota aperta um papel, com o endereço de dona Regina. É nesse encontra e se desencontra enquanto se espera que se desenrola “Campo Grande”, terceiro longa de Sandra Kogut. No filme, Ygor e Rayane são interpretados por Ygor Manuel e Rayane do Amaral, crianças que atuam com uma beleza e uma firmeza no olhar que impressionam. Assim como em seu …
Leia Mais »A dança dos desajustados
A vida sempre nos apresenta novos caminhos, mas, geralmente, por medo ou preguiça, paramos em algum ponto e não saímos mais dali, metidos na tal da zona de conforto. É o que aconteceu com o grandalhão Fúsi (Gunnar Jónsson), que todos os dias come sucrilhos no café da manhã, vai trabalhar no setor de bagagens do aeroporto, volta para casa, dedica-se ao hobby das miniaturas da Segunda Guerra Mundial, e assim a vida vai passando. Aos 40 e poucos anos, ainda virgem, é tímido, bondoso e carrega em seu corpanzil toda a gentileza do mundo. Fúsi é o protagonista de um belo, singelo e imperdível filme da Islândia que tem feito sucesso no circuito alternativo com o terrível título de “Desajustados”. O título original do filme é justamente Fúsi. Para a questão sobre quem é “ajustado” ou “desajustado” nessa história …
Leia Mais »Mais uma aula do bom cinema argentino
Há tempos que cinema argentino é sinônimo de bom cinema. A cada filme que chega às telas, fica cada vez mais evidente a capacidade dos cineastas “hermanos” de enxergar boas histórias no trivial, sem necessidade de firulas, efeitos ou apelação barata. Um dos diretores que ajudou a formar esse selo de qualidade é Daniel Burman, dos belos e tocantes “O Abraço Partido” (2004) e “Dois Irmãos” (2010), entre outros. Conferi seu filme mais recente, que no Brasil leva o nome de “O Décimo Homem”. No original, o título é “El Rey de Once” (sim, é difícil entender o critério que se usa para mudar os títulos dos filmes…). Once é o nome do bairro, majoritariamente judeu, em Buenos Aires, onde o protagonista cresceu. Ariel, interpretado por Alan Sabbagh, que está ótimo no papel, é hoje um economista que vive em Nova York. Com viagem marcada para visitar o …
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