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Tarso de Castro no irreverente Pasquim (Foto Divulgação)

A morte do jornalismo, entre a irreverência de Tarso de Castro e o rigor de Otávio Frias Filho

Dias após conferir o documentário “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro” vem a notícia da morte, nesta terça-feira, 21 de agosto, de Otávio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo. No final do documentário, “Otavinho”, como era conhecido, é mostrado como um “vilão” e ganha até uma musiquinha irreverente feita pelo humorista Paulo Caruso. Tarso de Castro, jornalista que morreu aos 49 anos, em 1991, representou um jornalismo libertário, sem amarras, que fez do “Pasquim” um exemplo de coletividade onde cada um escrevia como queria. Otavinho, por sua vez, intelectual, jovem herdeiro de uma grande empresa jornalística, inovou por impor rigor editorial. E, não por acaso, quando assumiu, Tarso de Castro, o colunista mais lido e também responsável por grandes inovações no jornal, como o caderno dominical Folhetim, estava entre os demitidos. Não havia mais lugar …

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E se a agricultura fosse destruída, onde encontrar sementes? (Foto Divulgação)

Sementes: a alma da Terra

No filme interestelar de Christopher Nolan, o planeta Terra está ameaçado, nossas reservas estão se esgotando; e homens, animais ou plantas estão em risco, só existe salvação se a humanidade conseguir colonizar outro planeta. No filme, não sabemos bem a causa desse desastre, mas somos apresentados sutilmente a alguns deles, um é sobre uma espécie de praga que está dizimando as plantações e, consequentemente, a comida do planeta; ali o milho já não produz como se produzia e está, pouco a pouco, definhando. Doente e fraco ele caminha para a sua extinção. Não estou bem certo se é possível que, de repente, uma super praga aparecesse e dizimasse nossas plantações ou algo que destruísse toda a fonte de alimentos do planeta. Hoje as pesquisas em torno da agricultura estão bastante avançadas e seriam capazes de detectar com uma precisão incrível qualquer ameaça. Isto, apesar de a história já ter mostrado que, em muitos momentos, …

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Da sacada de uma bela casa na enseada de Marselha, a vida passa implacável (Foto Divulgação)

A vida passa implacável em “Uma Casa à Beira-Mar”

Da sacada de uma bela casa de frente para a enseada de Marselha, no sul da França, a vida passa implacável. O patriarca contempla a imensidão azul enquanto agoniza na delicada, porém angustiante, abertura de “Uma Casa à Beira-Mar”, novo filme do cineasta Robert Guédiguian, o mesmo que nos encantou com ‘As Neves do Kilimanjaro” e tantos outros belos filmes ambientados em sua terra-natal. Obrigados ao reencontro após a doença do pai, que perdeu todos os movimentos, três irmãos tentam entender suas perdas e danos. O clima fica entre Tchecov e Brecht enquanto os limites físicos da casa, construída pelo pai e alguns amigos, ainda presentes na vida da família, funcionam como um palco que recebe, sem dó, algumas das grandes questões da humanidade, de ontem e de hoje. Guédiguian, que é de Marselha, tem uma intensa relação com o …

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Poucos estudos têm mostrado uma relação entre as condições climáticas e a saúde mental das pessoas (Foto André Sarria)

O sol do suicídio

“Para corrigir uma indiferença natural, fui colocado a meio caminho entre a miséria e o sol. A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem sob o sol e na História, o sol ensinou-me que a História não é tudo.”   (Albert Camus)    Tivemos aqui na Inglaterra dias bem quentes, e uma onda de calor fez com que cidades como Londres registrassem temperaturas de até 36 graus, uma estação do metrô foi fechada e alguns jornais noticiavam mortes causadas por insolação e desidratação, principalmente em crianças e idosos. Eu, por ter vivido no interior de São Paulo, não creio que iria sofrer algum problema de saúde por essa onda de calor, mas, para os ingleses, ao terem que lidar com isso, exigiu-se um esforço maior em suas rotinas. O ar de cansaço, mal estar e mau humor deles foi bastante visível no …

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"O que Hilda teria achado desse auê todo?" (Foto Instituto Hilda Hilst)

O dia em que conheci a obscena senhora Hilda Hilst

Os cachorros cercaram o carro do jornal e na entrada da casa estava Hilda Hilst, hoje a grande homaneagada da Flip 2018. Os latidos perturbaram o primeiro contato, mas a obscena senhora D. em pessoa (!) foi receptiva. Com os cabelos ruivos presos e um vestido azul solto, combinava muito bem com o tom de terra da ampla casa na chácara onde viveu boa parte da vida, em Campinas. O fotógrafo pede para ela posar, mas Hilda quer que entremos. O ano é 1990 e essa é uma das minhas primeiras pautas no caderno de cultura do Diário do Povo, em Campinas. Hilda Hilst era praticamente só um nome para mim, então antes da entrevista procurei no arquivo antigas reportagens. Mas nada teria sido suficiente para eu me preparar para o que viria. Um dos cães, e eram muitos, um …

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