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Ilustração: Moa

Plantas que brincam de telefone sem fio

Os terços rezados nas casas dos sítios eram um evento social muito importante para nós, moleques no auge de nossos 11 ou 12 anos de idade. Eles eram rezados, na maioria das vezes, pela Dona Nega do Gerardin, “A melhor rezadeira”, diziam as pessoas. Nunca soube muito bem a ordem dos sítios onde eles seriam realizados, mas me lembro de que uma vez ele foi feito no sítio da minha vó, onde morávamos. Minha mãe, logo cedo, varreu todo o quintal, meu pai buscou lenha para acender o fogão, onde seriam preparados os chás e achocolatados (que eram servidos junto com outras guloseimas logo após o final da ladainha de Nossa Senhora), meus irmãos buscavam as tábuas para fazer os bancos, e cada um na sua função deixava tudo pronto. A estrela principal era o altar: rosas feitas de papel …

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A intenção foi boa…

A vibração se alastrou rapidamente por todas as porções de solo úmido do planeta. O engraçado era que a fonte da interferência nunca poderia ser detectada facilmente, face que encontrava-se a milhões de anos-luz. O que não impedia que todos os espécimes de cogumelos da Terra que carregavam os genes dos “percussores” percebessem nitidamente o fenômeno. Estava posta a assembleia. “Pois é, bravos operativos”, — batucou cosmicamente a suprema e longínqua intervenção — “Já tínhamos previsto o desdobramento, mas a questão agora é que, finalmente, a ‘ficha caiu’ de vez”. Os “bravos operativos” captaram a mensagem, inscrita com precisão no cerne de seus pés, parcialmente enterrados nos substratos, e que suportam os chapéus. Contudo, sua primeira reação foi um imenso “?” O vozeirão quase imaterial, porém semi-silencioso, prosseguiu: “Até que enfim, respeitáveis centros de etnobotânica concluíram que o consumo habitual …

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Os tomates vão recuperar o seu gosto? (Foto André Sarria)

O que minha tia reclamava ao vendedor de verduras

Toda semana passava, lá na rua de casa, um “verdureiro”. Ele vinha toda quinta-feira com a carroceria de sua velha Saveiro abarrotada de frutas e verduras. Ainda me lembro de sua voz sonolenta que anunciava o preço do tomate: “traz a bacia minha senhora, que hoje você leva dois quilos…” Um dia desses, escutei minha tia reclamando pra ele que os tomates já não tinham mais o mesmo gosto. Dizia ela que, antigamente, os tomates eram mais cheirosos e que tinham mais gosto do que os de hoje. “Sei lá”, dizia ela, “antigamente, parecia que as fruta e as verdura tinha mais gosto, hoje em dia os tomate não têm gosto de nada, de que adianta ser tão vermelho se são tudo aguado…” Recentemente, saiu na revista Science um trabalho provando exatamente o que minha tia tanto reclamava: “Os tomates …

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Isabelle Huppert: magnífica em "Elle" (Foto Divulgação)

Tudo ao mesmo tempo para Isabelle Huppert

Sabe aquele filme recente com a Isabelle Huppert? Qual? Tem “Elle”, “O Vale do Amor”, “O Que Está Por Vir”… são tantos filmes estrelados pela atriz de 64 anos nos últimos meses que vem a pergunta: como é que ela consegue? A francesa muda de personagem como quem troca de roupa e a cada atuação, além de elogios e prêmios, fica a comprovação de que é uma das grandes atrizes dos nossos tempos. Com seu tipo “comum”, consegue realmente se transformar, o que rendeu a ela o apelido, não sei se maldoso, de “Meryl Streep da França”. Entre os filmes recentes da atriz, o que mais provocou polêmica e, portanto, saiu do circuito cult para se tornar notícia, foi “Elle”. Pela interpretação da fria empresária dona de uma empresa de games que é violentada, Isabelle Huppert chamou atenção e ultrapassou …

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Cacalo_Cavalo e praia 01

Desentendimento com o arame farpado

Alonso Luiz era um primo de terceiro grau. E era filho único e bem gordo – gorduchinho, vai; termo menos cruel de me referir a ele. Depois da chegada de minha família à sua casa, eu e meu irmão aceitamos o convite de Alonso Luiz para um passeio a cavalo em sua fazenda, uma fazenda linda nos arredores de Campinas. Depois de apertarmos a teta da vaca para tomarmos leite, resolvemos sair pelo caminho que Alonso Luiz nos indicava. Ele conduzia o grupo na frente, na condição do proprietário da fazenda, e nós íamos atrás, na qualidade de primos aprendizes. Estava sendo uma cavalgada como nunca tínhamos feito – aliás, era a primeira vez em que andávamos em algo que não fosse carrinho de rolimã. Ele mesmo cuidara dos assentos, dando ordens aos empregados para isso. E fomos embora. Em …

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