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Meu sobrinho Gabriel, criado como deve ser (Foto André Sarria)

Se sujar faz bem

Há algum tempo, uma empresa de sabão em pó lançava, na televisão, uma campanha publicitária na qual se dizia que “se sujar fazia bem”. O comercial mostrava crianças totalmente enlameadas pisando em poças de água, outras brincavam com animais, colhiam flores, descalças, ou subiam em árvores enquanto uma voz dizia “se sujar faz bem”. O anúncio fazia uma óbvia afirmação, a de que se a criança está suja e brincando é porque não está doente. Eu sempre usava esse argumento, o do “se sujar faz bem”, quando levava bronca de minha cunhada raivosa, diante de seus filhos cobertos de lama dos pés ao último fio de cabelo da cabeça. A cada dia, estudos científicos têm comprovado a importância de uma criança ser exposta a agentes externos, como poeiras, pólen, animais e germes, para desenvolver seu sistema imunológico. A falta de …

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Crédito: PROHenrik Sandklef/creativecommons.org

O enlace

Caráeo, custou muito empenho, dinheiro — e muito, muito tempo, — mas M. finalmente estava prestes a realizar um feito que, embora valorizasse no plano emocional, teria um efeito sociopolítico devastador: se tornaria o primeiro representante da Casta Cognitiva Superior (CaCoSu) a conseguir se casar legalmente com um integrante da Massa de Cognição Inferior (MaCoIn). O alcance da façanha se devia ao fato histórico de que, em nenhuma época os entraves que já marcaram enlaces inter-raciais ou homo-afetivos chegaram aos pés do tabu que sempre cercou a possibilidade de união legal entre CaCoSus e MaCoIns, ainda mais com a iniciativa partindo de um CaCoSu. A base da intolerância situava-se na realidade incontestável: enquanto os CaCoSus governavam o mundo, tanto nas questões de poder político, economia, ciência e tendências filosóficas/artísticas, aos MaCoIns eram delegadas funções subalternas, braçais ou meramente burocráticas: eram …

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Salgadinhos de insetos: nova opção culinária? (Foto André Sarria)

Entre grilos e estômagos vazios

Talvez a grande pergunta para as próximas décadas seja: “Como iremos conseguir alimentar tanta gente?” Estatísticas mostram que, em meados de 2050, a população mundial dará um salto para mais de 10 bilhões de habitantes. Para se ter uma ideia, somente hoje, mais de 800 milhões de pessoas não farão nenhuma refeição por todo o dia, e muitas delas morrerão por conta disso. A maneira como iremos alimentar tanta gente sem destruir o planeta é um dos maiores desafios da humanidade, pois aquecimento global versus água e temperaturas elevadas; terras agriculturáveis versus desmatamentos; controle de pragas agrícolas versus redução de agroquímicos constituem apenas a ponta de um iceberg feito de 10 bilhões de pessoas. Produzir alimentos para todos vai exigir muita criatividade e algumas medidas, eu diria, serão impalatáveis desafios. Digo impalatável porque, em algum momento, teremos de mudar nossos …

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O filme foi escrito e dirigido por Terence Davis (Foto Divulgação)

“Além das Palavras” retrata a poesia e a rebeldia de Emily Dickinson

Emily Dickinson (1830-1886) enfrentou, com poesia e rebeldia, uma vida marcada por princípios familiares rígidos que terminou de forma solitária e dolorosa, após sofrer por anos de uma grave doença renal. A poeta, hoje uma das mais inspiradoras e reconhecidas autoras da língua inglesa, teve uma vida praticamente anônima em Amherst (Massachussets) e publicou pouco mais de uma dezena de poemas dos quase 1.800 que foram revelados ao mundo postumamente. “Temo que as mulheres não possam criar a fina literatura”, diz o editor de um jornal ao responder ao seu pedido de publicação em uma cena de “Além das Palavras” (A Quiet Passion, no original), surpreendentemente a primeira cinebiografia da autora, em um filme escrito e dirigido pelo talentoso britânico Terence Davis, de trabalhos premiados, como “O Fim de um Longo Dia” e “Vozes Distantes”. No filme, a protagonista é …

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Crédito: European Space Agency/creativecommons.org

Caíram direitinho

Os sabichões da Interagência Espacial (InterEsp) mijaram de rir nas doutas e imaculadas cuecas/calcinhas quando decodificaram os dados enviados pelo cinturão de satélites de vigilância: “Revoada de unicórnios translúcidos na mesosfera”; “Aproximação crítica de asteroide envolto em escudo de invisibilidade”; “Van lotada por palhaços cósmicos do mal iniciando orbitação”. O mais engraçado era que os “dados” não só se faziam acompanhar de cálculos com fachada de coerência, como se davam ao luxo de produzir imagens hiper-realistas dos “fenômenos”. O que não estava visível para a gargalhante e elitista plateia da InterEsp eram as frenéticas atividades industriais em curso no cenário insólito pintado pelos dados malucos (também acompanhadas por risinhos, muitos risinhos…). Os cientistas terráqueos já estavam acostumados com as brincadeiras de “hackers espaciais”, que pentelhavam o mundo sério desde os idos tempos das atividades dos satélites Swift e Fermi, coletores …

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