Artigos Recentes

Crédito: Mark Hillary/creativecommons.org

Êita Via Crucis mais arretada, sô!

Era um grupo de amigos muito unidos e todos cursavam Artes Cênicas na cidade grande. Nos feriados voltavam em peso pra cidadezinha natal e gozavam de um — sejamos honestos — injustificável prestígio por parte dos conterrâneos. Por isso, naquela Semana Santa não foi nada difícil convencer o pároco a deixá-los encenar a Paixão de Cristo pelas ruas do lugarejo e filmar a montagem, pra pontuar como projeto experimental da faculdade. Descolaram o vestuário, os apetrechos cênicos e até ensaiaram. Na Sexta-Feira da Paixão, horas antes da apresentação, armaram o ritual de “concentração”, como não podia deixar de rolar. Só um deles não pode se “concentrar”, justamente o mais bonitão, de olhos azuis, cabeludo, que faria o papel de Jesus: pai separado, era sua vez de ficar de babá da filhinha. Os outros cheiraram uma duna de pó e mamaram …

Leia Mais »
Cogumelos são objeto de importantes pesquisas (Foto Arquivo Pessoal/André Sarria)

O demônio que devasta ao meio-dia e os cogumelos mágicos

“Não temas a peste que se move sorrateira nas trevas, nem o demônio que devasta ao meio-dia” Salmos 91:6   Todos os seres humanos irão experimentar quadros de depressão em algum momento de suas vidas. Para uma pessoa isso será passageiro, mas, para outra, isso se tornará um fardo tão pesado que ela estará disposta a desistir de sua própria vida para se livrar dele. A depressão é uma doença que afeta mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo. O tratamento, muitas vezes incerto, se baseia em medicamentos e sessões de psicoterapia. Digo incerto, porque cada paciente responde diferentemente a um mesmo medicamento e não existe um tratamento feito especificamente para cada um deles. A revista científica Neuropsychopharmacology da Nature publicou um trabalho realizado pelo professor de psiquiatria Dr. Carmine Pariante e sua equipe do King’s College mostrando …

Leia Mais »
"Silêncio" de Martin Scorsese, com Liam Neeson como o jesuíta Cristóvão, trata da questão da fé, baseado na obra do japonês Shusaku Endo

“Silêncio” e “A Cabana” seguem caminhos diferentes para ouvir a voz de Deus

Ouvir a voz de Deus ou, melhor, falar com Deus, é uma questão de fé. E enfrentar o silêncio como resposta é um teste. No meio de tanta violência, guerras e injustiças não é difícil questionar onde está Deus, afinal. Dois filmes recentes que buscam o divino de formas distintas nasceram como livros. Um fez um sucesso estrondoso, outro permaneceu cult. Em ambos, o protagonista é Ele. “Silêncio”, de Martin Scorsese, levou quase 30 anos para sair do papel para a telona. O filme é uma adaptação do livro do japonês Shusaku Endo e trata de temas fortes para o diretor, que é ex-seminarista, principalmente a questão da fé. O filme se passa em 1640 e conta a história de dois jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garpe (Adam Driver), que partem para o Japão para reencontrar o …

Leia Mais »
Foto Martinho Caires

Plano Diretor: O invisível mais que visível.

Caminhar pelas ruas da cidade ou pelas trilhas de nossas áreas rurais nos faz sentir pertencentes a paisagens lúdicas, bucólicas, cheias de vida, muitas vezes alegres, outras tristes, e que parecem estar ali só para nos desafiar a prosseguir para descobrir emoções novas, a beleza, o prazer de viver. O início é sempre lento, no passo a passo, mas depois vamos nos perdendo num mundo de sons, cheiros, emoções, até sentirmos alguns limites que nos fazem parar e refletir sobre o  que impede de prosseguirmos. São essas emoções que a cidade passa e são com elas que convivemos em nosso dia a dia. E aqui faço minhas primeiras indagações: Será que paramos por vontade própria ou existe alguma barreira que nos impede de prosseguir? O que a cidade nos revela? O que nos faz desviar quando vemos uma praça tomada …

Leia Mais »
Crédito: Enric Martinez/creativecommons.org

Porque me desencantei com a morte

(Em memória do saudoso Caio Tidei) Deixei o funeral de um amigo. No caminho, previa o que ia acontecer. Já contei aqui que na cidade alternativa que habitei um dia tinha sempre um poeta cego plantado nas trêmulas esquinas pelas quais eu passava. Até hoje ele adivinha os meus passos e se teleporta para os pontos de encontro. Sempre com um poema na ponta da alma suja de tempo. O daquele dia se chamava Porque me desencantei com a morte. Era assim: eu me criei no tempo dos enterros desfilantes matronas crocodilando lágrimas de vela deveras matraqueavam farfalhantes negras loucas vestes de todos os meses e praças destes feitos desta feita sem tragedianacional manchetável só aceitável naturação de morte unitária por vez vez que a família arrimada a salvo razoável véu na cara por tudo isso sem constrição possível só …

Leia Mais »